domingo, 18 de outubro de 2009

Concurso Público/ Prof. Arte 2009 - Leituras:

Estudos – Concurso Prefeitura SP/2009
OSTROWER, F. Criatividade e Processos de Criação. Petrópolis: Vozes, 1997.


Fayga Perla Ostrower (1920 – 2001) nasceu na Polônia, atuou como artista plástica – gravadora, pintora, desenhista, ilustradora, teórica em arte e professora. Veio ao Brasil em 1934, cursando Artes Gráficas na Fundação Getulio Vargas em 1947. Posteriormente trabalhou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e fez parte do corpo docente de pós graduação em diversas universidades brasileiras. Segue uma breve reflexão de seu livro Criatividade e processos de criação.

(...)"O tema deste livro é a criatividade. O enfoque, o ser humano criativo". Fayga Ostrower não encara a criatividade como propriedade exclusiva de alguns raríssimos eleitos, mas como potencial próprio da condição de ser humano. A criatividade não é tratada como objeto isolado, a ser estudado como se fora compartimento estanque. Fugindo a qualquer esquematização e simplificação, a autora a trata enquanto elemento dentro do mais vasto contexto, sem deixar, em nenhum momento do desenvolvimento de sua análise, de situá-la em relação à problemática social, econômica, política e cultural, que, sem dúvida, obstaculiza o livre fluir da criatividade humana. É desse modo que o livro de Fayga Ostrower acaba por se transformar numa denúncia extraordinariamente lúcida de tudo o que no mundo de hoje contribui, não para construir o homem a partir do que ele traz gravado em si de mais irreversível e essencial - a sua, repita-se, liberdade -, mas para, ao contrário, aliená-lo dela. (...)
Pedro Paulo de Sena Madureira

Todo ser humano tem um potencial criador. O Homem deve ser consciente de sua cultura, ser sensível àquilo que lhe contextualiza. Quanto mais consciente for, maior será seu potencial.
Por ser consciente, o homem sabe de sua existência individual e tem percepção de participar de uma sociedade, cheia de valores e regras culturais. Ao mesmo tempo, consegue através da memória associar os fatos entre o tempo (ontem, hoje, amanhã). Suas associações e a manipulação de objetos e eventos mentalmente podem influenciar o fazer e o criar.
O processo criativo envolve a comunicação entre os homens. Falar é objeto real das idéias, pode apresentar significados ou representar símbolos, mas não é o único meio de comunicação, existem também as formas (expressão subjetiva em comunicação subjetivada).
Formar é um modo de ordenar as informações e criar é o modo de comunicá-las, uma espécie de diálogo. As formas simbólicas estão diretamente relacionadas ao individuo pelo tempo e o espaço. Junto as formas simbólicas, as ordenações interiores, a fala ou as palavras o homem se encontra sobre a tensão psíquica, que tem a função estrutural e expressiva junto à intensidade emocional e intelectual. Um conflito que se resolve pelo processo de criação.

Materialidade e Imaginação
A criatividade e o potencial trabalham com a linguagem, a materialidade, a imaginação. Existe uma ligação entre a imaginação e a capacidade de cada matéria (que é limitada) e com o objetivo a ser alcançado. A imaginação é específica a cada trabalho. A materialidade nem sempre está ligada ao meio físico, mesmo quando sua matéria o seja. Ela pode estar ligada ao plano simbólico e através das ordenações psíquicas se transforma em comunicação.
A arte não é a única maneira de criar, existe também o fazer humano.
A matéria esta ligada a um contexto cultural, a um conjunto de fatores sociais, que são transformados em valores.

Intuições e Inspirações
Devemos tomar cuidado com o que é intuitivo e com o que é instintivo. A intuição lida com aquilo que nem sempre é conhecido, nos permite ser espontâneos pois é individual, é pessoal.
Tudo no ser humano passa por sua percepção, ela é formada pelo momento de conhecer, aprender e interpretar, importante ao ser intuitivo como momento de estruturar e formar aquilo que ficará guardado dentro do homem. Existe também o intuir, que está ao nível pré-consciente ou subconsciente, além de nossa percepção comum.
Podemos formar imagens referenciais, elas aparentam ser naturais para nós entretanto não são, como também não são herdadas e sim formadas através do conhecimento pessoal e cultural de um indivíduo. São formas de ajudar uma pessoa a entender os fatos através das referencias.
Está no intimo do homem a seletividade. Ele escolhe as informações usando a coerência do que pode ou não ser significativo a si mesmo, do que já era conhecido ou não. O insight apresenta o momento da visão intuitiva e a estruturação da possibilidade de pensar e agir do indivíduo.
Após intuir, selecionar, relacionar os dados se inicia o processo de formar (experimentar, intencionar). A intenção somente será executada pela elaboração, a concretização do trabalho. Ou seja, o fim do momento de inspiração. Logo, o homem tende a perceber que está em uma nova tensão psíquica, renovando o impulso criador.

Formas e Configurações
Desde pequeno o ser humano aprende a lidar com significados. A presença de cargas simbólicas continuam por toda vida por meio das ordenações de campo e ordenações de grupo. As ordenações de campo são fatores maiores que vão aos menores, enquanto as ordenações de grupo é o inverso. Porém os dois caminham simultaneamente.
Há ordenações de grupos de componentes semelhantes e os contrastes, que dão uma tensão maior que as semelhantes. Diferente da matemática é necessário acentuar que a diferença dos fatores altera o produto, portanto as ordenações precisam ser organizadas criando algum sentido para ter uma significação.

Valores e Contextos Culturais
Cada tempo tem diferentes valores culturais e sociais. Os estilos são concepções da vida, daquilo que se acredita em determinada época, de seus valores históricos. Influenciando a criação ruma a certos propósitos e valores coletivos, sofrendo mudanças através dos tempos. Por exemplo a diferença de valores na arte medieval e na arte moderna, diferentes representações e visões do mundo.

Crescimento e Maturidade
As crianças agem de forma impulsiva, elas querem descobrir o que acontece e dar sentido aos fatores. As experiências sensório-motoras são as primeiras formas de associação e desenvolvimento do ser humano, seguindo para uma adolescência mais realista onde o crescimento físico e psíquico começa a ser expressivo.
A maturidade não tem necessariamente uma idade biológica para acontecer, ela se inicia quando o individuo alcança uma independência interior de equilíbrio, intelecto e emocional. Resultando em um crescimento sem limites.
Fayga Ostrower acentua a diferença entre a criação e a invenção. Criar integra significados, é pessoal, envolve relações, é conhecer coisas, é desenvolver, é crescer. Da mesma forma, há diferença entre preço e valor. As emoções, os sentidos, a inteligência, tudo aquilo que lhe faz humano é valor, não podendo ser reduzido em mercadorias ou à algum preço.

Espontaneidade, Liberdade
ser espontâneo significa ser coerente consigo mesmo” (PP. 147).
Finalizando seus conceitos, a criação não é individual, mas é do individuo. O homem precisa estar ligado às influencias culturais e a espontaneidade criativa, sabendo que há uma seletividade dos fatores que aumenta seu potencial criativo. Lembrando que a liberdade de criação é diferente da liberdade de expressão. Fato ocorrido no Romantismo, onde os artistas lutaram para pensar contra certas idéias.

Nenhum comentário:

Postagens Mais visitadas do Site: