Tento ver as coisas que estão em minha vida com outros olhos. Mas, não importa o que eu faça, estes olhos sempre serão os meus. Minhas conclusões sempre chegarão a uma opinião própria.
Na manhã passada, uma amiga me ligou. Daquelas que nunca ligam e quando liga é porque você foi a última escolha. Conversa vai, conversa vêm...não me contive e perguntei: “Já sei, você está grávida?”. Quando percebo que minha previsão estava certa.
Não acredito que a gravidez me afete psicologicamente, mas nestes últimos anos a maioria dos meus amigos estão virando pais. “Alguém tem que cumprir a função de mulher!”, penso ironicamente.
Reparei que a gravidez, apesar de parecer uma doença contagiosa, de tempos para cá não tem durado muito. Em um dia a Jovem fala que está grávida, passa-se alguns meses e não está mais por diferentes motivos. Será que as pessoas desta geração não são fortes? Tudo dura pouco. Alguns bebês até querem nascer mais cedo do que de costume, outros parecem desistir já desde o começo.
Me lembro de uma vez, que ao voltar para a casa onde estou, percebi uma pomba no degrau de uma das casas pelo caminho. Era tarde, ela não devia estar ali. Parecia silenciosamente tranqüila, como se ninguém fosse nota-la. Logo pensei “Se eu for por trás dela e chuta-la ela nem vai perceber” acompanhada de “Credo, que pensamento cruel!”. Mas o que isto tem haver com bebês?
Ontem mesmo, ao caminhar de um trabalho ao outro, encontrei outra pomba. Desta vez só se via as penas espremidas sobre o chão e um dos pés dela. “Uma frágil alma se foi”. Seus dedinhos representavam a dor momentânea. Algo tridimensional que de repente se foi e sua matéria ficou sem volume.
Aquilo não me chocou.
Quantas vezes vi pombas neste estado. Me doeria pensar que após um sofrimento e tanta dor a pomba ainda estivesse viva e seu sofrimento presente.
As crianças de hoje talvez não sintam dor. Não lhe dá tempo para isto. É tudo tão rápido que, quando se dá conta, já aconteceu. A vida é efêmera, nossa matéria também.
Quem sabe a vida da criança que está por vir possa trazer, entre sua efemeridade, mais alegria para nossas vidas.
Mas deixo bem claro: Hoje posso pensar assim e amanhã talvez não. Minha opinião é efêmera, tanto quanto todos que neste momento existem. Não podemos deixar de notar que também somos pombas para este mundo.
(22/10/11 – 30/12/11. São Paulo – SP)
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